Japuíra é o nome como é chamado em Mato Grosso o pássaro guaxe, bastante conhecido pela sua capacidade de tecer belos ninhos, com diferentes tipos de material. Não por acaso, o pássaro empresta seu nome ao projeto social desenvolvido em cerca de 26 cidades de Mato Grosso pelo Instituto Mato-grossense do Algodão (IMAmt), visando gerar emprego e renda por meio da capacitação de mulheres em cursos de costura. “Já qualificamos mais de 3 mil mulheres, que hoje podem formar cooperativas, prestar serviços a terceiros ou ser empreendedoras individuais”, conta Osmar Rodrigues, coordenador do Projeto Japuíra.
Ele conta que o programa envolve parcerias com os municípios, que são responsáveis por ceder instalações e selecionar, de acordo com critérios socioeconômicos, mulheres que participarão dos cursos de costura e assim aprenderão a fazer desde bermudas e camisetas até calças jeans. “O curso tem duração de três meses e nesse período o IMA disponibiliza os instrutores e as máquinas, além do material necessário para que aprendam a profissão”, completa Rodrigues.
Nortelândia – Dentre os prefeitos parceiros do Projeto Japuíra, certamente um dos mais entusiasmados com seus resultados é Neurilan Fraga (PSD), chefe do Executivo do município de Nortelândia, localizado a 260 Km de Cuiabá. Com aproximadamente 6,5 mil habitantes, a cidade conta hoje com pelo menos 100 mulheres capacitadas, número suficiente para que Fraga planeje voos mais altos. “Esse projeto é a ‘menina dos meus olhos’ e a partir dele vamos criar um polo têxtil na cidade. Estou em entendimento com o governo de Mato Grosso, para atrairmos uma empresa de corte e acabamento, que vai se somar a esse projeto e beneficiar diversos municípios da região”, diz o prefeito.
Ele explica que o grupo local conta com 15 a 30 mulheres trabalhando ao mesmo tempo, mas este número depende da demanda de trabalho. As costureiras de Nortelândia chegaram a costurar peças de roupas enviadas por uma empresa de Santa Catarina, principal polo têxtil brasileiro, mas o fato de não haver empresas de acabamento na própria cidade mato-grossense impede que todo o potencial produtivo local seja explorado. “Atraindo empresas de corte e lavagem não precisaremos enviar o tecido para Santa Catarina ou São Paulo para o corte, para que depois ele volte para ser costurado aqui e novamente enviado para lavagem. Vamos fazer todo o procedimento aqui e transformar Nortelândia num polo produtivo que vai servir ao comércio de Mato Grosso e Rondônia”, projeta Fraga.
Visitas – Para Romero Sobreira de Carvalho, consultor contratado pelo IMAmt para o Projeto Japuíra, a prova de que os planos do prefeito Neurilan Fraga são exequíveis está em experiências realizadas em Pernambuco, para onde prefeitos, secretários e empresários mato-grossenses já viajaram duas vezes, a fim de conhecerem polos produtivos que possuem características parecidas com as encontradas nas cidades mato-grossenses. “Uma das visitas foi a Santa Cruz do Capibaribe, cidade de 85 mil habitantes, onde as pessoas convivem com a seca e não tinham emprego. Hoje não existe mais desemprego na cidade, devido ao polo têxtil local, que serviu como modelo para o projeto em Mato Grosso. A ideia é fazer uma confecção popular, com grande rotatividade de uso e a preços baixos, para que sejam bem vendidos”, conta.
A secretária municipal de Assistência Social, Anita Peron, ressalta o esforço da administração municipal para a seleção das participantes do programa, muitas delas desempregadas e sem perspectivas de emprego e renda após a derrocada do garimpo em Mato Grosso. “Muitas dessas senhoras que participam do programa eram cozinheiras nas dragas, na época do garimpo, e não houve nenhuma qualificação dessa mão de obra. Com o fim do garimpo, algumas foram trabalhar como diaristas em casas de família, mas isso não absorveu todas as mulheres que precisam de trabalho”, acrescenta.
Ela explica ainda que a maior parte das participantes se beneficia do programa Bolsa Família e foi rastreada pelo Cadastro Único do Centro de Referência de Assistência Social (Cras). “Temos vários programas do governo federal de transferência de renda, que são importantes para acudir famílias em vulnerabilidade social. Mas é importante que capacitemos essas famílias, com a inclusão produtiva, que dá perspectiva de trabalho, desperta vocações e melhora a autoestima das pessoas. Com a demanda atual de serviço, elas ganham entre R$ 700 e R$ 800 mensais e colocam o pão na mesa com o resultado de seu trabalho. O IMA é um parceiro indispensável para que isso aconteça”, avalia a secretária.
Convencimento – Até pelo histórico sofrido das mulheres que acabam aderindo ao programa, Anita conta que é necessário um processo de convencimento até que elas participem da iniciativa. “Fazemos propagandas também, mas não basta. O que resolve é irmos até as casas dessas pessoas para convencer que venham. Não é fácil resgatar a confiança em projetos dessa natureza em meio a famílias que viveram e exclusão social e até mesmo humilhações. Precisamos conversar muito”, conclui.
A julgar pela história da aluna Rosangela dos Santos Pires, de 24 anos, a Prefeitura tem colhido bons resultados no processo de atrair as alunas para o programa. “Conheci o curso pela minha tia. Cheguei a sair depois de um mês, mas acabei voltando há uma semana. Assim como eu, minhas irmãs não têm emprego e só não entraram ainda porque ainda não tem muito serviço. Mas elas têm vontade de trabalhar também”, diz Rosangela, sem tirar os olhos de sua atividade na máquina de costura e ao mesmo tempo sonhando em voar mais alto. Exatamente como o pássaro Japuíra.