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Moçambicanos querem aprender com Mato Grosso

Uma missão de aprendizagem – é assim que o moçambicano Norberto Mahalambe, diretor do Instituto do Algodão de Moçambique, órgão vinculado ao Ministério da Agricultura desse país africano, define a visita a Mato Grosso do grupo integrado pelo conselheiro comercial Jaime Nicol’s e os pesquisadores Dercia Evete Baibai e Leonel Moiana.

Eles estiveram na manhã desta terça-feira (16/04) na sede da Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão (AMPA), onde foram recebidos pelo diretor executivo da entidade, Décio Tocantins, e pelo diretor executivo do Instituto Mato-grossense do Algodão (IMAmt), Alvaro Salles, e, em companhia do pesquisador do IMAmt, Jean Belot, viajaram para Campo Verde (a cerca de 120km de Cuiabá). Lá, almoçaram com o presidente da AMPA, Milton Garbugio, e, após a visita a uma das principais áreas produtoras de algodão de Mato Grosso, seguiram para outra região tradicional de cultivo algodoeiro, Primavera do Leste, onde visitaram o Campo Experimental do IMAmt.

“É uma grande alegria para nós estarmos em Mato Grosso, que é hoje a capital do algodão do mundo”, disse Mahalambe. Durante o encontro na sede da AMPA, ele e Nicol’s, conselheiro comercial da Embaixada de Moçambique no Brasil, falaram sobre o grande interesse de seu país em aprender com a experiência brasileira e, especialmente, a mato-grossense. “Somos pequenos produtores de algodão, mas podemos ser grandes. Esse é o nosso objetivo”, acrescentou Jaime Nicol’s.

A produção anual de algodão de Moçambique é de aproximadamente 185 mil toneladas de algodão em caroço, de acordo com Mahalambe. O diretor mencionou que Moçambique almeja ser um dos maiores produtores de algodão da África, ao lado de Burkina Fasso, Benin, Mali e Costa do Marfim, que têm na cotonicultura uma de suas principais fontes de renda. Antiga colônia portuguesa localizada no Sudeste da África, Moçambique tem uma área de pouco mais de 800 mil km2 e uma população de aproximadamente 21 milhões de habitantes.

Os dois moçambicanos listaram as vantagens e desvantagens competitivas de seu país.  Entre os pontos positivos, estão a estabilidade política de Moçambique, a situação em termos de logística, a tradição na cultura algodoeira e a disponibilidade de mão de obra. Entre os pontos a serem superados, ambos citaram a falta de mão de obra qualificada, de recursos tecnológicos e financeiros. A comitiva veio ao Brasil justamente atrás de parcerias para superar esses gargalos e, na opinião do conselheiro Nicol’s e de Mahalambe, o país pode ser o parceiro ideal por várias semelhanças, entre elas, a língua em comum, a cultura e, no caso específico de Mato Grosso, as condições de solo.

“Estamos aqui para ouvir, aprender e ter algumas ideias do que podemos construir em forma de parceria”, explicou o diretor do Instituto do Algodão de Moçambique. Ele expôs a situação de seu país, falou do Programa de Cooperação Triangular para o Desenvolvimento Agrícola das Savanas Tropicais e Moçambique (Pro-Savana) – que envolve Moçambique, Brasil e Japão, assistiu a um vídeo institucional sobre a evolução da cultura algodoeira em Mato Grosso (que alcançou em duas décadas a posição de maior produtor de pluma do Brasil e conquistou os mais exigentes mercados internacionais) e respondeu várias perguntas dos diretores executivos da AMPA e do IMAmt.

Um dos assuntos focalizados durante o encontro foi a questão de terras em Moçambique, cuja legislação permite que agricultores estrangeiros utilizem as áreas disponíveis mediante a apresentação de um plano de uso por um período de 50 anos, que pode ser renovado, mas não dá a eles a posse definitiva. “A lei moçambicana faz tudo para impedir a especulação. Os produtores são bem-vindos em nosso país, mas não queremos especuladores”, frisou Mahalambe.

 

Congresso Brasileiro do Algodão – Ele reafirmou que Moçambique está muito interessado em contar com agricultores e investidores brasileiros e também com a cooperação técnica do IMAmt. Esse interesse é tão grande que o país pretende organizar uma delegação para participar do 9º Congresso Brasileiro do Algodão (9º CBA), que acontecerá em Brasília, de 3 a 6 de setembro próximo. O evento é promovido pela Abrapa, mas será organizado este ano pela AMPA com diretriz técnica do IMAmt e uma inovação: o congresso terá dois dias dedicados a temas do agronegócio e outros dois destinados à pesquisa científica.  Os moçambicanos prometem voltar ao Brasil em setembro para aprender mais e também apresentar melhor o potencial produtivo de seu país a atores da cadeia produtiva do algodão.