História do Algodão

Ampa - Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão.
Fonte: Anais do Museu Paulista – História e Cultura Material

O algodão é conhecido do homem desde os tempos mais remotos. A domesticação do algodoeiro ocorreu há mais de 4.000 anos no sul da Arábia e as primeiras referências históricas ao algodão estão no Código de Manu, do século VII a.C., considerado a legislação mais antiga da Índia. Os Incas, no Peru, e outras civilizações antigas, já utilizavam o algodão em 4.500 a.C. Os escritos antigos, de antes da Era Cristã, apontavam que as Índias eram a principal região de cultura e que o Egito, o Sudão e toda a Ásia Menor já utilizavam o algodão como produto de primeira necessidade.

A palavra deriva de al-quTum, na língua árabe, porque foram os árabes que, na qualidade de mercadores, difundiram a cultura do algodão pela Europa. Ela gerou os vocábulos cotton, em inglês; coton, em francês; cotone, em italiano; algodón em espanhol e algodão em português.

Somente a partir do segundo século da Era Cristã, o algodão se tornou conhecido na Europa, introduzido pelos árabes. Foram os árabes os primeiros a fabricarem tecidos e papeis com essa fibra e a Europa começou a usar regularmente o algodão na época das Cruzadas. No século XVIII, com o desenvolvimento de novas maquinas de fiação, a tecelagem passou a dominar o mercado mundial de fios e tecidos.

Nos Estados Unidos, o algodão começou a ser usado como cultura comercial nos estados da Carolina do Sul e da Geórgia com a utilização dos primeiros descaroçadores de rolo. Em 1792, Eli Whitney inventou o descaroçador de algodão, que conseguiu separar mecanicamente as sementes das fibras do algodão, deflagrando uma verdadeira revolução na indústria de beneficiamento de algodão e contribuindo para transformar os Estados Unidos no maior produtor mundial de algodão.

No Brasil

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Fonte: www.patosemrevista.com

Os índios já conheciam o algodão e dominavam o seu plantio desde antes do descobrimento do Brasil, sendo capazes de colher, fiar, tecer e tingir tecidos feitos com suas fibras. Eles convertiam o algodão em fios para a utilização na confecção de redes e cobertores, aproveitavam a planta na alimentação e usavam suas folhas na cura de feridas.

A produção comercial do algodão começou nos estados da Região Nordeste e o primeiro grande produtor foi o Maranhão que, em 1760, exportou para a Europa as primeiras sacas do produto.
Até então, os produtores se dedicavam ao plantio do algodão arbóreo perene, de fibras mais longas. O plantio do algodão herbáceo, de fibra mais curta, porém mais produtivo, começou em São Paulo, que se firmou como grande centro produtor por um período. Os altos custos das terras e a concorrência de outras culturas, como a cana-de-açúcar e a soja, entretanto, forçaram a cultura a buscar novas áreas de plantio como Mato Grosso e Goiás.

Fonte: Semira Adles Vainsencher, pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco

 

Em Mato Grosso

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Fonte: Arquivo AMPA

Até o final dos anos 1990, Mato Grosso praticamente não tinha importância como produtor de algodão, embora a região de Rondonópolis (situada 210 km ao Sul de Cuiabá) tenha ficado conhecida como a “Rainha do Algodão” nos anos 1960, com a predominância de pequenos produtores.

Pode-se dizer que a história da cotonicultura empresarial em Mato Grosso começou com dois amigos: os paulistas Olacyr de Moraes e Ignácio Mammana Netto. A eles se juntaram Benjamim Zandonadi, os primos Mario Patriota Fiori e Daniel Montoro e, num segundo momento, Adílton Sachetti.

É importante lembrar que, na década de 80, ocorreram algumas experiências de cultivo mecanizado da fibra em Goiás (com a família Maeda) e Mato Grosso do Sul (na região de Dourados). Ignácio Mammana Netto chegou a plantar algodão no Paraná e foi lá que conheceu o jovem engenheiro agrônomo Benjamim Zandonadi, quando ambos eram ligados à Cooperativa Agrícola de Goioerê (Coagel).

Ampa - Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão.
Fonte: Arquivo AMPA

Segundo o paranaense Mario Patriota, foi Ignácio quem sugeriu ao amigo Olacyr, no limiar dos anos 90, o plantio do algodoeiro no Chapadão do Parecis, como alternativa à monocultura da soja. Na época, Benjamim, Mario e seu primo Daniel também buscavam uma cultura alternativa no Sul de Mato Grosso e acreditavam no potencial da região de Itiquira para o cultivo do algodoeiro. Com o objetivo de conhecer as lavouras de algodão de Olacyr e Ignácio, Benjamin e Mario (juntamente com seu tio Clóvis Patriota) voaram até o Chapadão do Parecis, onde visitaram as fazendas Itanorte (de Olacyr) e Cantagalo (de Ignácio) e voltaram entusiasmados com os resultados alcançados com a variedade IAC 20.

Uma doença fúngica (ramulose) alterou os planos de Olacyr e Ignácio após a safra 1990/91. Olacyr se manteve na região de Campo Novo do Parecis e investiu recursos próprios numa pesquisa que culminou com o lançamento da variedade CNPA ITA 90 pelo Centro Nacional de Pesquisa de Algodão (atual Embrapa Algodão) – um trabalho conduzido pelo pesquisador Eleusio Curvelo Freire.

Ignácio aceitou o convite de Benjamim e Mario para conhecer a região de Itiquira e, diante da avaliação positiva da Embrapa Algodão em relação aos dados climáticos da região para o cultivo do algodoeiro, foram plantados 1.500 ha da variedade IAC 20 na safra 1991/92. Cada um tinha sua área de lavoura e, enquanto Benjamim, Mario e Daniel cuidavam do preparo da terra, Ignácio disponibilizava suas máquinas para a colheita. Os quatro montaram uma algodoeira no Distrito Industrial de Rondonópolis em sociedade.

“Iniciamos a atividade algodoeira com a visão de se produzir num modelo empresarial. Não queríamos comercializar o algodão in natura e, por isso, precisávamos de um volume de produção que viabilizasse o investimento para o beneficiamento e a comercialização do algodão em pluma”, lembra Mario.

Uma das fazendas arrendadas por Ignácio era vizinha à da família Sachetti e Adílton (o mais velho de nove irmãos) se encantou pela cultura do algodão. Os Sachetti fizeram um plantio experimental na safra 1992/93 e não pararam mais de plantar algodão. “Seu Ignácio era uma pessoa muito bacana e queria ver todo mundo ganhando dinheiro com a fibra”, diz Sachetti.

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Fonte: Arquivo AMPA

Crise e oportunidade – Foram tempos difíceis para esses pioneiros e plenos de desafios. “Tínhamos que fazer o ajuste da cultura às condições climáticas da região e ainda enfrentar o descontrole da economia do País, com uma inflação galopante”, recorda Zandonadi. O maior desafio veio com a crise após a safra 1994/95, quando os agricultores ampliaram suas áreas de lavoura animados com os resultados das safras anteriores.

Ignácio, Benjamim, Mario e Daniel se entusiasmaram com a produtividade da variedade ITA 90, plantada numa área experimental na safra 1992/93. Na safra 1994/95, foram cerca de 6.500 ha plantados com a ITA 90, porém os prejuízos causados por uma virose (a Doença Azul, que também afetou as lavouras de Olacyr de Moraes), motivada pelo excesso de chuvas e o descontrole de pragas vetores da doença, frustraram os planos dos pioneiros.

“Nossa expectativa era colher uma média de 270@/ha e colhemos uma média de 60@/ha. Passamos por uma situação extremamente difícil”, conta Mario. Apesar de tudo, ele se sente orgulhoso de ter contribuído com outros pioneiros para alavancar a cotonicultura mato-grossense e acredita que a experiência vivida por eles motivou várias iniciativas fundamentais para a consolidação do setor algodoeiro.

A crise provocada pela safra 1994/95 gerou muitas oportunidades. Em primeiro lugar, despertou o interesse da pesquisa (de imediato, foi criado um grupo voltado para o algodão na Fundação MT) e propiciou a criação do Programa de Apoio ao Algodão de Mato Grosso (Proalmat) e do Fundo de Apoio à Cultura do Algodão (Facual) – aprovados em 1996, no Governo Dante de Oliveira, graças à iniciativa de Cloves Vettorato, que dá nome à sede da Ampa/Aprosoja.

As dificuldades enfrentadas também estimularam os pioneiros e outros agricultores que tinham aderido a essa cultura na época a fundarem a Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampa), em 1997. O mesmo grupo criou o Instituto Algodão Social (IAS), em 2005, e o Instituto Mato-grossense do Algodão (IMAmt), em 2007.

Aos poucos, a qualidade da pluma mato-grossense foi conquistando consumidores de outros estados brasileiros e do outro lado do mundo, consolidando um modelo de agricultura empresarial, altamente tecnificado, que contribuiu para que o Brasil voltasse a estar no ranking dos maiores exportadores. “A história do algodão em Mato Grosso é muito bonita e ela não foi feita por um só”, resume Sachetti.

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