Nos últimos dias, a professora Azenir Gonçalves da Silva, 52 anos, tem enfrentado uma rotina mais pesada do que de costume. Durante o dia, de segunda à sexta-feira, ela se debruça sobre uma máquina de costura industrial num treinamento do Projeto Japuíra, oferecido no bairro CPA 4; à noite, dá aulas para alunos de Ensino Médio no Centro de Cuiabá. Mas ela não reclama, está feliz da vida. "Gosto de costurar desde criança e quando estou aqui eu me esqueço do resto do mundo. Sinto que se eu me dedicar, vou sair daqui com outra profissão", comenta Azenir, que pretende montar uma micro empresa para a confecção de roupas quando se aposentar.
A professora é uma das 14 alunas do curso que está acontecendo na sede da Sociedade Beneficente Evangélica (SBE) desde o dia 25 de março passado e é o segundo fruto da parceria entre a entidade e o Projeto Japuíra do Instituto Mato-grossense do Algodão (IMAmt). No primeiro, realizado no início do ano, um grupo de mulheres da comunidade aprendeu a trabalhar com malha, fazendo camisetas. Desta vez, o foco do treinamento é a facção de saias de brim (jeans). Para isso, as alunas estão aprendendo a operar vários tipos de máquinas industriais: overlock, interlock, pespontadeira, travete e reta, entre outras.
"Sempre gostei de costurar em casa, mas não conhecia as máquinas industriais. O treinamento é puxado, mas gratificante. Exige concentração, habilidade e carinho com as máquinas, e se você consegue dominar uma delas vai conseguir dominar qualquer outra. O mercado de trabalho está precisando muito de costureiras", empolga-se a professora Azenir.
Desde a sua criação em 2004, o Projeto Japuíra já atendeu mais de 3 mil pessoas em 26 municípios mato-grossenses. Segundo o coordenador do projeto, Osmar Rodrigues, mais dois cursos estão programados para iniciar este mês, sendo um de facção de peças em tactel, em parceria com a Prefeitura de Sapezal (no Oeste mato-grossense), e o outro, de facção de camisetas em malha, em parceria com a Prefeitura de Jangada (na baixada cuiabana). Nessas parcerias, o Japuíra fornece as máquinas de costura industriais e o material inicial (tecidos, linhas, etc), além de instrutoras com domínio de uma metodologia que já é referência em Mato Grosso. A entidade parceira fica responsável por disponibilizar o local e a infraestrutura básica para a realização do treinamento. Os cursos para treinamento e formação de mão de obra, como os do Japuíra, são realizados pelo IMAmt com recursos do Instituto Brasileiro do Algodão (IBA).
"Através desses cursos, nós, produtores de algodão, queremos estender à população de Mato Grosso que não trabalha com a cotonicultura os benefícios de nossa atividade", afirma Milton Garbugio, presidente do IMAmt e da Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão (AMPA). Desde o seu surgimento em Rondonópolis, o Projeto Japuíra possibilitou a formação de 34 grupos especializados na confecção de peças de vestuário. Entre os municípios contemplados, estão Nortelândia, Arenápolis, Denise, Nova Guarita, Alto Paraguai, Sapezal, Pedra Preta e Nova Olímpia.
Oportunidade – No caso da SBE, o treinamento está acontecendo de segunda à quinta-feira, das 7h30m às 17h30, e na sexta-feira, no horário matutino, sob a orientação das instrutoras Alvina Alves Sampaio (responsável pelo curso), Eriemes Ribeiro de Araújo, Juliana de Fátima Andrade e Rosemira Maria Marçola. O treinamento vai até meados de junho com o objetivo de ensinar o passo a passo na facção de saias jeans – um processo em que as alunas já recebem o tecido cortado e pronto para a produção final dos artigos.
De acordo com o diretor executivo da SBE, pastor Valdemar Santos, a ideia de oferecer o curso de corte e costura à comunidade surgiu com o seu antecessor, conhecido como doutor Luiz Roberto (já falecido) e busca dar às pessoas a oportunidade de se qualificarem e encontrarem uma nova profissão. Dessa forma, a SBE espera que elas tenham condição de abrir seu próprio negócio – de forma individual ou em cooperativas – ou se sintam preparadas para entrar no mercado de trabalho.