A necessidade de definição de um novo preço mínimo de garantia para o algodão voltou a ser defendida pelo presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Gilson Pinesso, em reunião da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Algodão e Derivados, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Os produtores reivindicam um aumento dos atuais R$ 44,50/arroba para R$ 61,50/arroba. Pinesso argumenta que o valor mínimo não é corrigido há dez anos e não cobre mais os custos de produção.
Sem confirmação oficial, comentários do setor dão conta de que o ministro da Agricultura, Antônio Andrade (PMDB/MG), teria assinado portaria com a nova proposta de preço mínimo, que ficaria por volta de R$ 56/arroba. A informação só deve ser confirmada em maio, quando a presidente Dilma Rousseff divulgará o plano de safra 2013/14.
O empresário rural Eraí Maggi Scheffer, que comanda o Grupo Bom Futuro, um dos maiores produtores brasileiros de algodão, disse à reportagem do Portal G1 que o aumento do preço mínimo de garantia irá incentivar os agricultores a aumentar suas vendas para o mercado interno e beneficiar a indústria nacional. Ele explica que atualmente os cotonicultores estão fechando contratos de exportação para safra 2013/14 a preços que apenas cobrem o custo de produção, “pois o importante é assegurar o pagamento dos fertilizantes e defensivos que também são comprados antecipadamente”.
Scheffer observa que poucas indústrias nacionais têm condições de fazer compra antecipada da safra para assegurar o custo de produção ao cotonicultor, pois o universo de 9 mil empresas é composto na maior parte por pequenas (fiações, tecelagens e malharias). Ele argumenta que, ao elevar o preço mínimo o governo sinalizaria que, em caso de queda de preços, cobriria o custo e evitaria necessidade de venda antecipada para exportação, garantindo maior oferta no mercado interno.
O empresário calcula que 60% da safra de algodão, que começou a ser plantada em novembro, foi vendida e, no caso do Grupo Bom Futuro, as vendas atingem 90%. “Já comprei boa parte dos insumos”, diz o empresário rural, que pretende elevar a área cultivada com algodão dos atuais 70 mil para 90 mil hectares (+28,6) na safra 2013/14, que é igual à semeada em 2011/12.
Na avaliação dele, as perspectivas da soja para a próxima safra, que sinalizam com a colheita de uma safra recorde nos Estados Unidos, não são tão boas como as do algodão. O Bom Futuro na próxima temporada irá aumentar a área total de plantio para 448,3 mil hectares, dos quais 251 mil serão com soja (+6,5%), 107,5 mil para o milho (3,9%), além de 850 hectares de feijão. O aumento deve-se à aquisição de novas áreas e arrendamento em 15 municípios de Mato Grosso.
Pleito – Na reunião da Câmara Setorial, realizada em Brasília, na última quarta-feira (27/03), a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) apresentou a proposta de isenção por dois meses da Tarifa Externa Comum (TEC) nas importações da fibra fora dos países do Mercosul. O diretor-superintendente da Abit, Fernando Pimentel, explicou que o objetivo é permitir à indústria nacional se abastecer com o produto importado até a entrada da safra brasileira, que começa a ser colhida no fim de maio.
Pimentel calcula que o volume para dois meses de consumo seria de 200 mil toneladas de fibra e lembra que a TEC de 10% foi zerada em outras ocasiões, como entre outubro de 2010 e maio de 2011, para atender situações pontuais de abastecimento, sempre com a concordância dos produtores e exportadores. “A cadeia do algodão trabalha integrada”, diz. No ano passado, a indústria se abasteceu apenas com o produto nacional.
O presidente da Abrapa, Gilson Pinesso, afirmou que a entidade vai analisar o pleito da Abit de suplementar a oferta com o produto nacional. A Abrapa reviu sua estimativa de safra, de 1,4 milhão de toneladas de pluma para 1,2 milhão de toneladas, em função do ataque da lagarta Helicoverpa nas lavouras, que foi mais sério no oeste da Bahia, onde os prejuízos são calculados em R$ 1 bilhão.
Pinesso disse que o setor aguarda para a publicação da portaria interministerial da Saúde, Agricultura e Meio Ambiente, que libera a importação de inseticidas à base do princípio ativo benzoato de emamectina, que em outros países têm se mostrado eficientes no controle da Helicoverpa. Os pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) descobriram que a lagarta não é da espécie zea (lagarta da espiga do milho), como foi identificada no início, e sim a armigera, que até então não existia no Brasil.
A Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Algodão e Derivados tem por finalidade propor, apoiar e acompanhar ações para o desenvolvimento das atividades da cadeia. É um foro de caráter consultivo, pertencente ao Conselho do Agronegócio e vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), sendo composta por representantes de produtores, consumidores, trabalhadores, entidades empresariais e organizações não governamentais, bem como de órgãos públicos relacionados aos arranjos produtivos.